Entrevista de Jum Nakao ao blog Ipanema.

O ponto alto (visto como tanto emocionante, como polêmico) da sua carreira foi em 2005 no SPFW quando desfilou a coleção “A Costura do Invisível” (também se tornou livro e documentário) feita toda em papel vegetal que, ao final, foi rasgada em cena, pelas próprias modelos, como parte da apresentação.
Atualmente, além de trabalhar no seu ateliê, em São Paulo, Jum Nakao é constante em eventos sobre processo criativo. Nesta sexta, o artista chega ao Rio para participar da palestra “Desconstrução das Referências de Moda”, pelo Instituto Rio Moda (que acontece também amanhã), mas antes bateu um papo-cabeça com o Ipanema RJ sobre moda, artes, processo de criação e, é claro, o cenário brasileiro.
Fotos: Sandra Bordim
IB - A sua arte sempre foi conceitual. Você acha que, hoje, o brasileiro está pronto para consumir conceito?
JN - O Brasil ainda é muito carente de educação de qualidade. A cultura está em último plano. Podemos dizer que o brasileiro ainda é um analfabeto estético. Isso tudo acaba refletindo na produção de moda.
Por isso, os artistas/estilistas se tornam reféns da “ignorância”. Eles tentam fazer sua parte, querem produzir conteúdo de boa qualidade para o público, ao mesmo tempo em que tem que manter suas marcas. Então, acabam sucumbindo ao mercado e tendo sua produção limitada àquilo que o público compreende.
IB - Como você vê este período que estamos vivendo nas artes? Como poderíamos definí-lo?
JN - A gente está vivendo um período de estagnação. Tem uma nova geração lutando para tirar o Brasil do marasmo e gerar conteúdo de verdade, que atinjam o público de forma a transformá-lo, educá-lo, mas o brasileiro é muito influenciado por modismos. Os valores para o consumo deveriam ser repensados. Há um grande vazio na população. Se digere pouco daquilo que se consome.
O momento atual está desconectado das essências. Existem preocupações com números, estatísticas, crescimento e se esqueceu de pensar numa sociedade melhor. Os valores se tornaram extremamente materiais e numéricos. Falta essência, valorização do conteúdo imaterial, de bons princípios e foco em educar o público para absorver além do que é percebido. As pessoas estão correndo tanto que ficam apenas na superfície de tudo. E moda é apenas um dos canais de reflexão que mostra o que está acontecendo no país como um todo.
IB - Como você vê as tão faladas cópias no mundo da moda (você até foi entrevistado em uma matéria polêmica sobre o assunto publicada na Revista Piauí em junho de 2007)?
JN - A questão da influência/inspiração é complicada. Pois, uma coisa é você buscar algo que te leve a criar, outra é agir de forma pirata, se inspirando num produto pronto onde 99% é a adaptação deste produto para o seu público alvo. É extremamente ridículo, mas só o público seria capaz de mudar esta condição, ao exigir do estilista algo legítimo. Mas isto envolve toda a questão cultural, de valores, ainda a ser muito trabalhada no Brasil.
IB - Do que é composto o mundo de Jum Nakao?
JN - Estou o tempo todo conectado com o que está acontecendo ao meu redor. Toda obra tem que ter diálogo com o meio e com o público. O artista deve pensar em inputs capazes de gerar reações e estar conectado com o entorno, mas muitos vivem numa redoma, criando para um universo sem interação com a sociedade, sem diálogos abertos e multiplicadores. Neste momento acredito que deveríamos pensar em algo que propicie o crescimento das pessoas, para que elas possam aprender e aprimorar suas referências.
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