Quarta-feira foi muito bom assistir Eddie!
http://br.myspace.com/bandaeddie
Bairro novo/casa caíada.
autor: Fabio Trummer.
Ainda a fogo em mim / quisera sempre assim... / dia de luz, festa do azul celestial, casa caíada, água salgada, imaginando a vida, toda submarina, deitada na estampa colorida da toalha, de todas as cores, secando ao sol./ Mas todas as cidades já estão em chamas / consumidas por um desejo voraz / quem sabe ainda sobre alguma chance / a tarde o vento e o mar./Ainda a fogo em mim / queria sempre assim.../ sombras frondosas nas calçadas, bairro novo, seus dias quentes e úmidos, suor pingando do rosto e logo ali, deitado a vontade nas gramas dos seus jardins, o cheiro bom de todas as flores filhas do sol./ Mas todas as cidades já estão em chamas / consumidas por um desequilibrio feroz / quem sabe ainda sobre alguma chance / e folhas pairando no ar... ainda a fogo em mim...
Lançando seu cd "Carnaval no inferno", por que não pensar essa mistureba de de sentidos?
Referências, simbolos e magia, laços de pertencimento promovem maior poder local - o espaço global das referências e a força das mil tradições fazem sentido para cada um e na reunião de sensações o bem estar.
A banda Eddie foi tão real exatamente pela seu pluri-lugar, no Rio, a música que não se define pelo local da garagem da banda (Olinda), mas por todas as referencias que quem as produz digere - de Jane´s Addiction à Nação Zumbi. Reggae, frevo, rock e uma boa dose de tristeza.
Segue mais sobre ela:
"Nem escola de samba, nem trio elétrico, a banda pernambucana Eddie - na estrada desde a virada para os anos 1990 - faz o seu Carnaval no Inferno. Pelo menos, esse é o nome do último álbum da banda, lançado no apagar das luzes de 2008. São onze faixas que misturam reggae, frevo, rock e uma boa dose de tristeza, sentimento sem o qual já se disse que não se faz bom samba.
O baile melancólico, criativo e (por que não?) dançante que se segue abre com Bairro Novo/Casa Caída, que lembra como as cidades estão se esgotando como projeto metropolitano de viver/morar.
Os primeiros acordes chegam apenas com violão e a voz de Karina Buhr (da banda Comadre Fulôzinha) afirmando: “Ainda há fogo em mim!”. Só depois o vocal e letra da Eddie, Fábio Trummer, entra evocando ideias bem simbólicas, “imaginando a vida toda submarina”. Um poderoso naipe de sopro finaliza a canção, que prepara para a mais alegre música do disco, uma releitura de O Baile Betinha, de Erasto Vasconcelos.
O Baile Betinha traz o também percussionista Urêa interpretando a singela e encantadora letra, uma ameaça de alegria carnavalesca cheia de malemolência. Só que logo depois Fábio Trummer ataca com Quase Não Sobra Nada, com uma poesia tocante, versando sobre a falta de hora, a falta de tudo, especialmente do encontro, tema que a clássica Sinal Fechado, imortalizada na voz de Paulinho da Viola, já suscitava.
A quarta faixa é a canção que dá título ao disco. É um instrumental suingado, pontuado pela guitarra roqueira de Trummer. A quinta faixa e talvez uma das melhores do álbum é Me Diga O Que Não Foi Legal, uma música que flerta com o bolero e uma letra deliciosamente cafajeste.
Carnaval no Inferno segue com outra releitura, que os cinéfilos vão lembrar porque integrava a trilha sonora do filme Amarelo Manga, do diretor - também pernambucano - Cláudio Assis. Trata-se de Gafieira no Avenida, composta por Jorge Du Peixe e Lúcio Maia (Nação Zumbi). Sintetizadores e um contraponto melódico que se sobrepõe à parte cantada parecem fazê-la soar como vozes à distância.
Metrodux, a sétima faixa, é quase uma vinheta com experimentações e abre alas para a seresteira Nada de Novo. Esta se assemelha a um balançado lamento bêbado, ouvido num barzinho, destes que tem música ao vivo. A letra é desesperançada, ou talvez, a constatação realista de um certo imobilismo diante da vida em curso.
Seguindo em linha reta, vem Desequilíbrio, que tem um embalo roqueiro e uma letra ácida, que diz “arde aqui dentro de mim uma pouca vontade”. É uma faixa-lamento pelos “dias corrosivos”, que levam ao desequilíbrio do título.
Depois disso só mesmo a voz de Karina Buhr, noutra participação especial, desta vez conduzindo a revoltada Eu Tô Cansada Dessa Merda. Harmonica e coerentemente o baile triste da Eddie acaba com Dessa Vez Foi demais. Belos acordes que parecem compor uma canção para uma Quarta-Feira de Cinzas.
Impressionista, meticuloso e rico, Carnaval no Inferno retoma a pulsão criativa de Original Olinda Style (2002) e sepulta de vez Metropolitano (2006) como um trabalho de transição da Eddie, ainda que este álbum trouxesse boas coisas em seu curso irregular.
A questão é que a banda liderada por Trummer e que tem Rob (baixo), Urêa (percussão e vocal), Kiko (bateria) e Andret (trompetes, teclados e samplers) na atual formação parece bem mais madura neste trabalho. Eles criaram uma alegoria carnavalesca um tanto soturna, mas talvez por isso mesmo cheia de belos momentos. Como se dizia no tempo do vinil: “um disco para se ouvir até furar”.
*João Carlos Sampaio é pesquisador, jornalista e crítico de cinema.
Fonte: http://www.vivaviver.com.br/bela_musica/a_banda_eddie_e_o_seu_baile_de_carnaval_no_inferno/233/
Opinativas encerra os trabalhos
Há 9 anos