sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ainda há fogo em mim! - Banda Eddie

Quarta-feira foi muito bom assistir Eddie!
http://br.myspace.com/bandaeddie

Bairro novo/casa caíada.

autor: Fabio Trummer.

Ainda a fogo em mim / quisera sempre assim... / dia de luz, festa do azul celestial, casa caíada, água salgada, imaginando a vida, toda submarina, deitada na estampa colorida da toalha, de todas as cores, secando ao sol./ Mas todas as cidades já estão em chamas / consumidas por um desejo voraz / quem sabe ainda sobre alguma chance / a tarde o vento e o mar./Ainda a fogo em mim / queria sempre assim.../ sombras frondosas nas calçadas, bairro novo, seus dias quentes e úmidos, suor pingando do rosto e logo ali, deitado a vontade nas gramas dos seus jardins, o cheiro bom de todas as flores filhas do sol./ Mas todas as cidades já estão em chamas / consumidas por um desequilibrio feroz / quem sabe ainda sobre alguma chance / e folhas pairando no ar... ainda a fogo em mim...


Lançando seu cd "Carnaval no inferno", por que não pensar essa mistureba de de sentidos?
Referências, simbolos e magia, laços de pertencimento promovem maior poder local - o espaço global das referências e a força das mil tradições fazem sentido para cada um e na reunião de sensações o bem estar.
A banda Eddie foi tão real exatamente pela seu pluri-lugar, no Rio, a música que não se define pelo local da garagem da banda (Olinda), mas por todas as referencias que quem as produz digere - de Jane´s Addiction à Nação Zumbi. Reggae, frevo, rock e uma boa dose de tristeza.

Segue mais sobre ela:


"Nem escola de samba, nem trio elétrico, a banda pernambucana Eddie - na estrada desde a virada para os anos 1990 - faz o seu Carnaval no Inferno. Pelo menos, esse é o nome do último álbum da banda, lançado no apagar das luzes de 2008. São onze faixas que misturam reggae, frevo, rock e uma boa dose de tristeza, sentimento sem o qual já se disse que não se faz bom samba.


O baile melancólico, criativo e (por que não?) dançante que se segue abre com Bairro Novo/Casa Caída, que lembra como as cidades estão se esgotando como projeto metropolitano de viver/morar.

Os primeiros acordes chegam apenas com violão e a voz de Karina Buhr (da banda Comadre Fulôzinha) afirmando: “Ainda há fogo em mim!”. Só depois o vocal e letra da Eddie, Fábio Trummer, entra evocando ideias bem simbólicas, “imaginando a vida toda submarina”. Um poderoso naipe de sopro finaliza a canção, que prepara para a mais alegre música do disco, uma releitura de O Baile Betinha, de Erasto Vasconcelos.

O Baile Betinha traz o também percussionista Urêa interpretando a singela e encantadora letra, uma ameaça de alegria carnavalesca cheia de malemolência. Só que logo depois Fábio Trummer ataca com Quase Não Sobra Nada, com uma poesia tocante, versando sobre a falta de hora, a falta de tudo, especialmente do encontro, tema que a clássica Sinal Fechado, imortalizada na voz de Paulinho da Viola, já suscitava.

A quarta faixa é a canção que dá título ao disco. É um instrumental suingado, pontuado pela guitarra roqueira de Trummer. A quinta faixa e talvez uma das melhores do álbum é Me Diga O Que Não Foi Legal, uma música que flerta com o bolero e uma letra deliciosamente cafajeste.

Carnaval no Inferno segue com outra releitura, que os cinéfilos vão lembrar porque integrava a trilha sonora do filme Amarelo Manga, do diretor - também pernambucano - Cláudio Assis. Trata-se de Gafieira no Avenida, composta por Jorge Du Peixe e Lúcio Maia (Nação Zumbi). Sintetizadores e um contraponto melódico que se sobrepõe à parte cantada parecem fazê-la soar como vozes à distância.

Metrodux, a sétima faixa, é quase uma vinheta com experimentações e abre alas para a seresteira Nada de Novo. Esta se assemelha a um balançado lamento bêbado, ouvido num barzinho, destes que tem música ao vivo. A letra é desesperançada, ou talvez, a constatação realista de um certo imobilismo diante da vida em curso.

Seguindo em linha reta, vem Desequilíbrio, que tem um embalo roqueiro e uma letra ácida, que diz “arde aqui dentro de mim uma pouca vontade”. É uma faixa-lamento pelos “dias corrosivos”, que levam ao desequilíbrio do título.

Depois disso só mesmo a voz de Karina Buhr, noutra participação especial, desta vez conduzindo a revoltada Eu Tô Cansada Dessa Merda. Harmonica e coerentemente o baile triste da Eddie acaba com Dessa Vez Foi demais. Belos acordes que parecem compor uma canção para uma Quarta-Feira de Cinzas.

Impressionista, meticuloso e rico, Carnaval no Inferno retoma a pulsão criativa de Original Olinda Style (2002) e sepulta de vez Metropolitano (2006) como um trabalho de transição da Eddie, ainda que este álbum trouxesse boas coisas em seu curso irregular.

A questão é que a banda liderada por Trummer e que tem Rob (baixo), Urêa (percussão e vocal), Kiko (bateria) e Andret (trompetes, teclados e samplers) na atual formação parece bem mais madura neste trabalho. Eles criaram uma alegoria carnavalesca um tanto soturna, mas talvez por isso mesmo cheia de belos momentos. Como se dizia no tempo do vinil: “um disco para se ouvir até furar”.

*João Carlos Sampaio é pesquisador, jornalista e crítico de cinema.
Fonte: http://www.vivaviver.com.br/bela_musica/a_banda_eddie_e_o_seu_baile_de_carnaval_no_inferno/233/

Moda e autonomia - A Costura do Invisível de Jum Nakao

Movimentos sociais: processo educativo de descoberta de direitos, agrega interesses, reconhece opositores e os caminhos burocráticos às demandas sociais (...) escolas de cidadania e apresendizagem política. Repensando o modelo de desenvolvimento em voga.

Entrevista de Jum Nakao ao blog Ipanema.

Estilista e diretor de criação, Jum Nakao começou sua carreira na área de eletrônica, mas não demorou muito para perceber que seria na moda onde encontraria a sua linguagem. Após estudar Coordenação Industrial Têxtil e Artes Plásticas passou por grandes marcas brasileiras, atuou como diretor criativo de eventos importantes e expôs seu trabalho em Paris e Nova Zelândia.

O ponto alto (visto como tanto emocionante, como polêmico) da sua carreira foi em 2005 no SPFW quando desfilou a coleção “A Costura do Invisível” (também se tornou livro e documentário) feita toda em papel vegetal que, ao final, foi rasgada em cena, pelas próprias modelos, como parte da apresentação.

Atualmente, além de trabalhar no seu ateliê, em São Paulo, Jum Nakao é constante em eventos sobre processo criativo. Nesta sexta, o artista chega ao Rio para participar da palestra “Desconstrução das Referências de Moda”, pelo Instituto Rio Moda (que acontece também amanhã), mas antes bateu um papo-cabeça com o Ipanema RJ sobre moda, artes, processo de criação e, é claro, o cenário brasileiro.

Fotos: Sandra Bordim

IB - A sua arte sempre foi conceitual. Você acha que, hoje, o brasileiro está pronto para consumir conceito?

JN - O Brasil ainda é muito carente de educação de qualidade. A cultura está em último plano. Podemos dizer que o brasileiro ainda é um analfabeto estético. Isso tudo acaba refletindo na produção de moda.

Por isso, os artistas/estilistas se tornam reféns da “ignorância”. Eles tentam fazer sua parte, querem produzir conteúdo de boa qualidade para o público, ao mesmo tempo em que tem que manter suas marcas. Então, acabam sucumbindo ao mercado e tendo sua produção limitada àquilo que o público compreende.


IB - Como você vê este período que estamos vivendo nas artes? Como poderíamos definí-lo?

JN - A gente está vivendo um período de estagnação. Tem uma nova geração lutando para tirar o Brasil do marasmo e gerar conteúdo de verdade, que atinjam o público de forma a transformá-lo, educá-lo, mas o brasileiro é muito influenciado por modismos. Os valores para o consumo deveriam ser repensados. Há um grande vazio na população. Se digere pouco daquilo que se consome.

O momento atual está desconectado das essências. Existem preocupações com números, estatísticas, crescimento e se esqueceu de pensar numa sociedade melhor. Os valores se tornaram extremamente materiais e numéricos. Falta essência, valorização do conteúdo imaterial, de bons princípios e foco em educar o público para absorver além do que é percebido. As pessoas estão correndo tanto que ficam apenas na superfície de tudo. E moda é apenas um dos canais de reflexão que mostra o que está acontecendo no país como um todo.

IB - Como você vê as tão faladas cópias no mundo da moda (você até foi entrevistado em uma matéria polêmica sobre o assunto publicada na Revista Piauí em junho de 2007)?

JN - A questão da influência/inspiração é complicada. Pois, uma coisa é você buscar algo que te leve a criar, outra é agir de forma pirata, se inspirando num produto pronto onde 99% é a adaptação deste produto para o seu público alvo. É extremamente ridículo, mas só o público seria capaz de mudar esta condição, ao exigir do estilista algo legítimo. Mas isto envolve toda a questão cultural, de valores, ainda a ser muito trabalhada no Brasil.

IB - Do que é composto o mundo de Jum Nakao?
JN - Estou o tempo todo conectado com o que está acontecendo ao meu redor. Toda obra tem que ter diálogo com o meio e com o público. O artista deve pensar em inputs capazes de gerar reações e estar conectado com o entorno, mas muitos vivem numa redoma, criando para um universo sem interação com a sociedade, sem diálogos abertos e multiplicadores. Neste momento acredito que deveríamos pensar em algo que propicie o crescimento das pessoas, para que elas possam aprender e aprimorar suas referências.